quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Projeto de pesquisa identifica e cataloga plantas medicinais no Nordeste de Mato Grosso

Professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso (IFMT) desenvolve projeto que busca mapear as plantas medicinais utilizadas pelos ribeirinhos do Nordeste de Mato Grosso.

Por Dandara Morais

O projeto “Estudo etnobotânico, etnofarmacológico e fitoquímico de plantas medicinais utilizadas por ribeirinhos do Nordeste de Mato Grosso, Brasil “é um estudo que visa salientar a importância da pesquisa como meio de reconhecer e valorizar o saber popular, que há séculos utiliza as plantas para diversos fins terapêuticos.
Reginaldo Vicente Ribeiro, biólogo e professor do IFMT/Confresa, nos contou um pouco sobre o projeto de pesquisa e sua importância para população local e para academia.

ATV: Quem são os idealizadores do projeto?

Reginaldo: Eu sou aluno de doutorado em Ciências da Saúde na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), professor do IFMT e desenvolvedor da pesquisa, que é coordenada pelo Professor Doutor, Domingos Tabajara de Oliveira Martins da UFMT.
 Após passar por uma concorrida seleção de projetos de várias regiões do País, a proposta do projeto foi aprova pelo Programa Pró-Amazônia: Biodiversidade e Sustentabilidade edital Nº 047/2012/CAPES, que garantiu os recursos para execução da mesma em sua vigência (2012 à 2016).
Além do Professor Domingos Tabajara e do prof. Reginaldo Ribeiro, a pesquisa conta com a parceria de professores pesquisadores da UFMT, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia - INPA, Universidade Federal do Tocantins – UFT, Universidade Estadual Paulista - UNESP e desde 2014 com apoio do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso IFMT, campus Confresa.

ATV: Reginaldo, quais os principais objetivos deste projeto?

Reginaldo: Tecnicamente o projeto visa levantar informações etnobotânicas sobre a flora medicinal usada pelas comunidades ribeirinhas da microrregião Norte Araguaia e desta forma avaliar o potencial químico e farmacológico das plantas selecionadas. Mas ao meu ver vamos além disto, pois a partir deste, podemos valorizar o conhecimento local sobre plantas medicinas e amplificar esses conhecimentos para outras pessoas; Orientar os moradores de comunidades ribeirinhas sobre as técnicas de boas práticas para o preparo de produtos naturais terapêuticos a partir de plantas nativas encontradas na região; Contribuir para elaboração de estratégias de manejo, conservação e uso sustentável da biodiversidade; Como algo talvez um pouco mais distante conseguir a implantação de farmácias vivas e a descoberta de plantas como fonte de novos bioprodutos.

ATV: Onde é realizada a pesquisa?

Reginaldo: O projeto de pesquisa intitulado “Estudo etnobotânico, etnofarmacológico e fitoquímico de plantas medicinais utilizadas por ribeirinhos do Nordeste de Mato Grosso” é um projeto ambicioso e inédito, pois se propõe a identificar as plantas medicinais usadas por ribeirinhos de quatorze municípios que compõe a Microrregião do Norte Araguaia (Nordeste de Mato Grosso), além de selecionar as 30 espécies com  maior indicação terapêutica pelas comunidades pesquisadas, mas que ainda são desprovidas de estudos que comprovem sua eficácia, com objetivo de avaliar o potencial farmacológicos, a segurança, bem como e composição química das plantas selecionadas.
A área de estudo caracteriza-se por ser uma região de transição ente os biomas Cerrado e Amazônico, apresentando uma rica biodiversidade, grandes rios, como o rio Xingu, rio Araguaia e rio das mortes, além de apresentar diversas comunidades locais que estão instaladas na região há décadas e que detém um grande conhecimento sobre a flora medicinal daquela região, sendo que o conhecimento e o uso de plantas medicinais representam o principal, se não o único recurso terapêutico para a manutenção da saúde e/ou  tratamento de doenças.  
O estudo apresenta grande relevância, tanto para os moradores das comunidades acessadas, como para produção de conhecimento na área de produtos naturais, o mesmo poderá possibilitar: a transmissão de saberes sobre o uso de plantas medicinais, para as novas gerações; valorização do conhecimento popular sobre as plantas medicinais; desenvolvimento de um banco de dados que possa representar aqueles espécimes com elevado potencial farmacológico; implantação de farmácias vivas; contribuir na preservação das espécies vegetais estudadas, na medida em que o conhecimento agrega valor e interesse da população e órgãos governamentais para a proteção ambiental de espécies biologicamente ativas; conhecer a atividade farmacológica, segurança e caracterizar as classes químicas das plantas selecionadas; contribuir para o desenvolvimento de fitoterápicos e/ou fitofármacos.

ATV: Quem participa deste processo além dos pesquisadores?

Reginaldo: A pesquisa conta com vários colaboradores locais em vários municípios da região. A maioria dos envolvidos, já participam ativamente na coleta de plantas e orientações sobre o uso desde a primeira etapa do projeto, onde os ribeirinhos mais experientes no conhecimento e saberes sobre as espécies vegetais medicinais foram indicados pelos próprios moradores das comunidades. Atualmente ribeirinhos que nos ajudam nessas atividades de campo em Ribeirão Cascalheira, senhor Olindo; Bom Jesus do Araguaia, Pastor Dirço; Novo Santo Antônio, dona Rosa, senhor Joao Nunes e professora Luzia; São Félix do Araguaia, Matuzalem e dona Joana; Santa Terezinha, seu Feliciano e em Vila Rica senhor José Manoel e dona Solange.








O mais recente colaborador do projeto é o Sr. Valdo da Silva, morador da cidade de Porto Alegre do Norte, ambientalista e tesoureiro da Associação Terra Viva, que há décadas tem se dedicado na promoção do desenvolvimento sustentável na região do vale do Araguaia, através de educação ambiental, da recuperação, conservação e preservação do meio ambiente. 
O Senhor Valdo foi indicado a mim, por um ex-aluno do curso de agronomia do IFMT, campus Confresa, o senhor Sebastião, pois estava procurando algum parataxonomista na região para nos auxiliar na identificação de algumas plantas que ainda não havíamos encontrado e o Tião me falou da grande experiência do Sr. Valdo, bem como de seu envolvimento com projetos ambientais. Assim, entrei em contato com o Valdo que de pronto nos recebeu em sua casa e tem contribuído significativamente com nossa pesquisa, pois tem nos auxiliado nas coletas de espécimes vegetais em estágio fértil que ainda não havíamos encontrado.

ATV: Estão no terceiro ano do projeto, pode fazer uma avaliação até aqui?
Reginaldo: A pesquisa tem alcançado resultados promissores, tanto sob os aspectos etnobotânicos como farmacológicos. Para se ter uma ideia, os 60 especialistas locais ribeirinhos que foram entrevistados foram capazes de indicar e reconhecer mais de 300 espécies de plantas medicinais, das quais 73% são nativas.
O que mais impressiona é o grande conhecimento que os ribeirinhos dispõem sobre as plantas, que vai desde a forma correta de coletar, preparar e proceder com a indicações terapêutica das plantas com maior eficácia. Isso foi evidente, quando extratos de algumas espécies vegetais foram submetidas a ensaios farmacológicos em laboratórios, onde das 10 espécies de plantas indicadas testadas em ensaios antiúlcera, 8 foram eficazes em reduzir de forma significativa o processo ulcerogêncio em camundongos.  Embora tenham sido observados bons resultados farmacológicos, houve também a identificação de plantas usadas pela comunidade que apresentam algum potencial tóxico.


ATV: Qual o próximo passo do projeto?

Reginaldo: Queremos iniciar a divulgação da pesquisa, pois é muito importante este retorno para comunidade. Então no começo de 2016 está prevista a realização da divulgação dos principais resultados alcançados em comunidades ribeirinhas (Novo Sto. Antônio, Sta. Terezinha e em Santa Cruz do Xingu). Todos os participantes da pesquisa, assim como a comunidade em geral será convidada à participarem das reuniões para divulgação dos resultados obtidos, de seminários multidisciplinares, minicursos e palestras com as temáticas de uso sustentável de plantas medicinais. Eu irei coordenar a realização dessas atividades com o apoio do IFMT, campus Confresa.








quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Reserva da ATV é danificada por prefeitura

Prefeitura de Porto Alegre do Norte-MT invade área da Associação Terra Viva causando danos econômicos, ambientais e morais.

Por Dandara Morais 

Nos dias 22 e 24 de julho de 2015, a chácara Joinha, localizada a 500 metros do perímetro urbano do Setor dos Buritis, em Porto Alegre do Norte-MT, teve cercas arrancadas, árvores nativas derrubadas e uma vala que impede a passagem de veículo automotor criada na entrada da chácara. A chácara é de propriedade da Associação Terra Viva de Agricultura Alternativa e Educação Ambiental (ATV). A ação foi feita sem aviso prévio oral ou judicial, sob a justificativa da necessidade de arrumar o trecho de estrada usado por veículos de grandes empresas da região do setor do agronegócio.

Houve danos econômicos com a destruição de aproximadamente 58 metros de cerca de cinco fios de arame liso, arrancando e destruindo as estacas de madeira de lei. Já o dano ambiental é imensurável, devido à supressão de árvores nativas e exóticas. Apenas o tempo cuidará para que as árvores cresçam novamente.

A ATV, fundada em 1988, atua na promoção do desenvolvimento sustentável na região do vale do Araguaia, através de educação ambiental, da recuperação, conservação e preservação do meio ambiente. Com mais de 26 anos de serviços prestados, é uma instituição reconhecida nacional e internacionalmente, com diversos títulos e condecorações, como a Menção Honrosa recebida na categoria Negócios Sustentáveis da 9ª Edição do Prêmio Chico Mendes de Meio Ambiente, em 2009. A ATV foi declarada pelo próprio município de Porto Alegre do Norte como entidade de “utilidade pública”, através da Lei Nº533/2008 de 06 de maio de 2008, e o pelo Estado de Mato Grosso, através da Lei Nº9.366, de 18 de maio de 2010.

Há 15 anos a entidade adquiriu o sítio Joinha e tem trabalhado em sua área com a recuperação e preservação de 53 hectares de Cerrado, bioma extremamente ameaçado no país. Os trabalhadores da ATV garantem  e contribuem para que Porto Alegre do Norte cumpra com as exigência de manutenção da vegetação nativa, definida pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e pelo próprio Código Florestal. O local serve ainda como refúgio da fauna e flora, o que possibilita a preservação da biodiversidade.

O presidente da Associação Terra Viva Justiniano Pereira e o tesoureiro Valdo da Silva, estiveram na prefeitura do município, para informar a situação e tentar um possível acordo entre as partes. Foram recebidos pelo Secretário de Administração do município, João Iris, que se comprometeu em reparar os danos causados. Resta saber quando os reparos serão feitos.


sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Sistema de plantio Casadão: recuperando e gerando renda

Quatro áreas são recuperadas em três assentamentos usando o sistema Casadão, com apoio da CPT e ATV.


Por Dandara Morais

A Associação Terra Viva (ATV) e Comissão Pastoral da Terra (CPT) visitaram os Projetos de Assentamento (P.A.) Fartura, Manah e Gleba Xavante, para avaliação e monitoramento de quatro áreas de recuperação. Estas fazem parte do projeto da Articulação Xingu Araguaia financiado pelo Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio) administrado pela Associação Nossa Senhora da Assunção (Ansa).

O cerceamento e a recuperação das áreas degradas são os objetivos principais dos parceiros ATV e CPT. Para realizar a atividade foi utilizado o sistema de plantio Casadão (sistema agroflorestal do grupo), priorizando a introdução de lavoura branca e árvores frutíferas nas áreas a serem restauradas. Cláudia Araújo, agente da CPT explica “Optamos por plantar a lavoura branca e frutíferas, pois estamos atentos à recuperação e à geração de renda para as famílias, tanto na roça como nos projetos, tentamos consorciar o bem para natureza e o bem para o homem”.


Durante os anos de 2013 e 2014 em cada uma das áreas foram realizadas atividades específicas de recuperação, de acordo com a necessidade de cada local. Foram feitos mapa da área de uso, cobertura do solo, preparo do solo, produção de mudas, plantio de mudas e sementes, mutirão, aceiros, visitas de monitoramento e trato cultural. Lembrando que as mudas são produzidas pelos beneficiários do projeto e no viveiro da ATV e as sementes são coletadas por eles também.

Conheça as quatro áreas em recuperação
                                        

Seu Anastácio, morador do P.A Fartura, recuperou uma área de 2,5 hectares, onde foram plantadas 520 mudas e 50 kg de sementes, de 28 espécies diferentes.









Na área do P.A Xavante Sitio Terrágua, Valdo da Silva, fez a recuperação de uma área de três hectares, na qual foram plantadas 19 espécies diferentes, sendo estas divididas em 38 kg de sementes e 500 mudas de espécies frutíferas, principalmente.  







Seu Placides e Dona Raimunda, moradores do P.A Manah, recuperaram uma área de 2,5 hectares, com o plantio de 21 espécies, divididas em 400 mudas, 48 kg de sementes. Seu Placides optou por dar prioridade à adubação verde e ao plantio de lavoura branca (abóbora, batata doce, milho, quiabo), o que lhe garantiu um uma complementação da renda familiar com a venda de sementes para a Rede de Sementes do Xingu. Seu Placides comenta “Tiramos tudo do nosso quintal, as frutas para nossa alimentação, para produção de doces e agora as sementes que podemos revender para Rede, este ano só aqui do quintal foram quase 50 quilos”, diz Placides.



O quarto lote, também no P.A Manah, é do senhor Acrísio, onde foi recuperada uma área de dois hectares, no qual foram inseridas seis espécies, utilizando mais mudas no processo, num total de 430 mudas e três quilos de sementes.








Texto: Dandara Morais

Imagem: Arquivo ATV

sábado, 17 de janeiro de 2015

A Freira

Autor: 
 
Nos tempos difíceis, de colonização, brota da terra todo tipo de esplendor e ópio. Maria, A Freira, veio de família afortunada. E foi forte, foi norte. Fortaleza de um leão. Saiu de casa cedo, contrariando o gosto dos país. Se resignou em um convento, esperando ficar mais perto de deus. Seus irmãos choravam, em visitas bimestrais, sem olhos, visões ou palavras. A Freira persistiu radiante. Sonhou distribuir as palavras do pai, ou de deus. Fez jejum, praticou novena. Lutou com a dor da saudade, contra os laços de amizade. E fez-se forte. Fez-se maria. Não abandou os seus. Viveu perto de jesus. Ato maior desapegado da vida. A Freira fez amigas no convento. Sonhou muito, e sonhou alto. Depois de terminada as promessas divinas. De seu maior ato de amor, comprometimento e resignação. Depois de abdicar a tudo. Se juntou com duas amigas, Madalena e Socorro, e foram humanizar este mundão. Esta é a história de três monastérios, de três amores, de três irmãs, que enfrentaram os desafios da terra, pra plantar amor e verdade, no coração das pessoas e do latifúndio.
A Freira e suas amigas, partiram pro interior. De uma terra há pouco descoberta. Regada de ódio e rancor. Foram elas sempre alerta, levando a mensagem do senhor. A Freira como à de ser, não chorou e nem voltou. Foram até a descoberta, de um povo miserável que se indignou. Ela, A Freira, sempre alerta. Foi pro lado do trabalhador. Foram as três juntas com evangelho, declamando palavras de amor. Foram morar os sertão das coisas incertas, e da justiça divina dos homens do senhor. Andaram mil léguas, ficaram cansadas. Mas quando chegaram a presença amada da vida, logo as resignou. Foram viver numa terra prometida, cheias de conflitos e gente lutando pela paz e pelo amor. A Freira logo escolheu o seu lado. Logo fez sua escolha. Deixando de lado o cartório marcado, se apaixonou pelo povo do interior.
No conflito de terras, o latifúndio viu versos presentes na esperança. A ganância contra o amor. Entretanto, A Freira que acreditava em justiça. Pois o joelho na terra e implorou pro senhor: “que seja feita a sua vontade”. Pedido inocente de freira. Pedido inofensivo as leis dos homens. Pedido perdido e inocente. Pois há vocês de acreditar, que até mesmo A Freira, traiu de seu juramento. E caiu nas graças do amor. Ele se vestia de poeta. Ele jovem e sonhador. Falava como profeta, e acreditava nas coisas do amor. A Freira que não era imune, logo caiu nas cantigas de amor. Foi assim que se nasceu e sucedeu, há história de nosso conto de amor. Ela freira, ele poeta; Ela crente, ele profeta; Ela certeza, Ele descoberta; Ela sonho, e Ele utopia. Destas que se o destino fizera um dia, um encontro entre dois, um encanto de sonhador.
Ele era o líder da rebelião. Queria terra, e queria ter com os irmãos. Queria vida digna ao seu povo trabalhador. Mas lá havia latifúndio, tomando a força de grilos e regado a justiça. No entanto, o povo não tinha preguiça, e sem medo de sangue lutou, por seu pedaço de chão. Pra dividir a terra, como jesus prometeu, que em uma terra prometida, se dividiria o pão. Ele foi cabra valente. Enfrentou fazenda, jagunço e corrente. Não temia a lei do motosserra. Não tinha medo nem mesmo da guerra. Não tinha medo!
A Freira que abdicou de tudo, esqueceu das fraquezas do coração. Enfrentou seu pai e família. Esqueceu seus juramentos. Esqueceu do convento. E se apaixonou pelo pobre peão. Ele que das mãos calejadas, das andanças, do pó e da estrada. Não teve outra opinião. Quando viu A Freira o seu coração, debulhado feito sabugo de milho, se tornou um fraco então. Mas um fraco dentro das fortalezas, tinha na mente a plena certeza, de conquistar seu pedaço de chão. Rompeu cerca, fez o roçado. Fez poema e rompeu o sangrado. Conquistou o coração da Freira, e uma fortaleza se tornou. Junto dela fez muitos planos, pra de médio a longos anos. Largou o coração de poeta, e por outra causa incerta, jamais se aprisionou. Queria mesmo era o esmo da terra. Nem que sobre foice e guerra. Ao lado do seu povo, e da Freira, com quem sonhou.
Entretanto justiça nessa terra, nem mesmo a dor de barriga. A justiça fez intriga, plantou ódio e se despiu do pudor. Preferiu desalojar, centenas de almas perdidas. Mulheres com filhos. Maridos com sonhos. Pra que a terra continuasse improdutiva, mas fazendo propaganda do seu senhor. A freira que não foi de tola. Disse ao mundo que tamanha injustiça. Que não tenhamos a preguiça, de lutar pelas causas do amor. O fazendeiro que nunca foi coitado. Comprou um punhado de gado, comprou um punhado de arrame. Comprou um punhado de capatazes. E como também não tinha preguiça, comprou no final a justiça, e da terra grilada se empossou.
Ele que não era de brincadeira. Que conquistou até coração de freira. Indignado jamais calou. Denuncio a justiça dos homens. Denunciou a improdutividade. Denunciou que tinha saudade, de repartir o pão, o amor. Foi então pra linha de frente. Enfrentar bala, jagunço e corrente. Pra que os olhos das pessoas descentes, se voltassem para as misérias da terra. Para o sofrimento dos esquecidos. Para as retinas de quem pensa em amor. A Freira ficou mais encantada. Pois a arma dos que amam é viver em um conto de fadas. Ela freira, ele poeta; ela sonho e ele profeta... coisa que o latifúndio nunca entendeu, ou aceitou.
E numa manhã cinzenta. A Freira de branco, Ele de vermelho. A justiça fez sua parte. Prorrogou a dívida com os pobres da terra. Determinando em sentença, que para deixar de desavença, a terra é do latifúndio, e os homens com armas a vontade divina do senhor. Ela chorou com os seus. A Freira nunca entendeu. Como há fome poderia vencer. Acreditava que jesus é poder. Foi pro lado das crianças e das mães em pranto. Enquanto os tratores esteira, destruíam o esforço de milhares de mãos. O sonho de milhares de vidas. A esperança da terra prometida. Ela pegou a bíblia e não compreendeu. Pegou seu crucifixo (que seu pai lhe deu), e pediu benevolência ao senhor.
Ele não teve escolha. Sabia do seu destino. Seu coração selvagem desde os tempos de menino. Se despediu dela com um beijo santo. Abraços os meninos, e recitou um poema de encanto. E foi pra frente da bastilha, e proclamou: “Aqui morre um homem e nasce uma causa. Aqui enterram um homem e nasce um sentimento, um sentido pra Vida”. O soldado raso compreendeu. As ordens que o general lhe deu. Deu um tiro no meio do peito. Jorrou sangue. Jorrou preconceito. Jorrou Vida. Mas não dele. A roupa foi branca. A Freira é que se pôs em frente ao chumbo. Seu amor não foi presente de latifúndio. Sua crença não foi propagar a miséria. Salvou a vida dele A Freira. Salvou os sonhos das crianças. Salvou a esperança dos pobres. Pois uma pedra no coração dos nobres. Que justiça é essa? Que vida é essa? Que pão é esse? Que miséria é essa...

Ele de louco saiu pelo mundo. Fazendo poema contra o latifúndio. Inspirado no ventre da freira, seu único e verdadeiro AMOR!

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Agregar e multiplicar resultado de um ano de trabalho na Bordolândia

Agentes da Associação Terra Viva (ATV) e Comissão Pastoral da Terra (CPT) visitaram o Projeto Assentamento Bordolândia para avaliação do projeto Semeando Sementes Germinando Água.
Por Dandara Morais


Foram quatro dias de trabalho entre os quais se destacam observação das áreas preparadas para o plantio, avaliação das atividades realizadas durante o ano de 2014 e planejamento das novas etapas para 2015. Valdo da Silva, presidente da ATV, destaca que famílias que haviam ficado de fora do projeto e durante o ano mostraram interesse em participar entraram para o grupo “Esse foi o momento de avaliação e chegamos à conclusão que temos pernas para receber novas famílias, hoje fomos até elas firmar mais algumas parcerias.”
Durante a avaliação algumas falas são destaques e positivam a ação em conjunto das duas organizações (ATV e CPT) “A união é muito importante, a Terra Viva e CPT conseguiram não só unir, como também multiplicar. Compramos mais arames do que tinha programado, preparamos mais áreas, posso dizer que somos exemplo aqui no assentamento, no início era 12 famílias e já somos 18 trabalhando no projeto, e tem mais um tanto querendo participar,” finalizou Pedro Righi, morador do P.A. Bordolândia que participa do Semeando Semente Germinando Água. 



Imagens: Claúdia Araújo e Jaqueline Felipe

Associação Terra Viva recebe visita técnica do primeiro curso de Agroecologia para Tapirapés

O Instituto Federal de Mato Grosso (IFMT) campus de Confresa – MT está ofertando o primeiro curso Técnico Subsequente em Agroecologia ao povo Tapirapé, na aldeia Urubu Branco, por meio do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (PRONATC).

Por Dandara Morais



 O curso terá duração de um ano e meio e teve início em julho de 2014. Felipe Gimenes, engenheiro florestal e professor do IFMT, explica que o objetivo do curso é levar conhecimento prático e científico para a comunidade indígena Tapirapé. Os professores são facilitadores e buscam diminuir as distâncias existentes entre as duas culturas para que o conhecimento seja absorvido de modo integral.


As aulas acontecem na Escola Indígena Estadual Tapi’itãwa na aldeia Urubu Branco. Felipe Gimenes avalia que teoria e prática devem andar juntas, por isso, as visitas técnicas são de suma importância para a assimilação do conhecimento. “Levar eles na agrofloresta já estabelecida da Associação Terra Viva, que possui mais de 400 espécies em uma área pequena, 5 mil metros quadrados, faz com que eles acreditem no que estamos falando diariamente, o potencial do sistema agroflorestal”, comenta Felipe Gimenes.


Para Valdo da Silva, presidente da ATV, o sistema agroflorestal tem nome agora, mas lembra que seu avô já trabalhava deste modo “Numa pequena área tinha-se de tudo, plantação de arroz, feijão, banana, abacaxi, toda alimentação da família vinha do próprio quintal, era assim que se vivia, em harmonia com a natureza”.

A sede da ATV é reprodução do modo de vida que ele aprendeu, um consórcio natural entre o homem e o meio ambiente. Uma chácara dentro da cidade de Porto Alegre do Norte-MT onde você se depara com as múltiplas faces de vida. Um quintal da agrofloresta com viveiro, casa de sementes, biblioteca e múltiplas espécies arbóreas e animais.


Em cinco meses de curso, anos e professores, já conseguiram construir um viveiro na aldeia Urubu Branco, onde o trabalho de identificação de árvores matrizes, coleta de sementes, preparação de substratos, produção de mudas e o plantio no campo foram feitas pelos próprios alunos. Felipe Gimenes destaca algumas espécies cultivadas na área experimental da aldeia de 4 mil metros quadrados “Plantamos milho, melancia, feijão guandu, pau D’arco, feijão de corda, açaí, murici, tamarindo,  angico, bacaba, tarumã e algumas palmeiras, tudo de maneira consorciada,” diz Felipe Gimenes.

Na visita a sede da Associação Terra Viva (ATV) os alunos ficaram admirados com a quantidade de frutas, conforto térmico, quantidade de matéria orgânica e atrativo para a agrofauna encontrados: “Eles viram a grande capacidade que a agrofloresta tem de modificar a história de um determinado local tanto na alimentação, qualidade de vida e bem estar.” Diz Felipe Gimenes.


Imagem: Dandara Morais